sexta-feira, abril 16, 2010

Um quase inédito do Leminski

Leminski agradece a atenção dispensada. À esquerda, o compositor e cantor Grafitti, hoje trabalhando na Bélgica.


Eu, o Marcos Prado, o Thadeu Wojciechowski, o Bira Oliveira e o Roberto Jubainski editamos dois números de um jornal chamado Odiário. Um dos colaboradores era o Paulo Leminski, entre criaturas do quilate de Luís Cláudio Oliveira, Aníbal Marques, Luiz Rettamozzo, Solda, Rodrigão Barros, Sérgio Viralobos, José Buffo, Vicente Meneghetti Jr (mais conhecido como O China), Arnaldo Cezar Machado, Alberto Centurião, Plínio Gonzaga e outras estrelas deste e de outros firmamentos.
Pois é. Relendo o número 2 do Odiário me deparei com um poema do Leminski que, até onde eu sei, só tem esta publicação. Então, lá vai ele, para ver se os arqueólogos, exegetas, historiadores e fãs o incluem nas suas obras completas.




(Ode como é que pode ao país
da redundância)

Um vice país governado por um vice
presidente que vice manda e desmanda
sobre um vice bando de vice gentes,
hoje, se diz constituinte.

Na Magna Assembleia, ainda não
apareceu nenhuma ideia.
Discute-se a propriedade da terra,
os meios de conter a CUT e os
interesses dos bancos, que,
nesta terra de brancos
todos os gatos são mansos.

A um povo que só diz sim, uma
elite com alma de pedinte oferece
a comédia de uma constituinte.
Esta pergunta, porém, é eterna:
quem contraiu a nossa dívida externa?
Quem sabe no ano dois mil
chegaremos ao século vinte.
Sim, senhores, o Brasil é o seguinte.

(p leminski 87)

2 comentários:

Ivan disse...

Pois então o seguinte, Beco:

primeiramente, perceba que uma série de postagens assim faz que a maioria esmagadora das gentes que passam a ver navios por aqui (os quiçá incautos internautas anônimos) vão interpretar que esta postagem já veio, viu e foi vencida. Somente alguém acima da linha da miséria intelectual fará algum comentário inteligente numa postagem que ficou com cara de ultrapassada - poucos enfim se ligam que o blogueiro sempre vai saber se houve comentário em seu blog, e pouquíssimos ainda estarão dispostos a conversar sobre uma postagem que parece da semana passada. Assim, a "lição" seria: hold your fire, contenha a munição. Mas em última instância acho que você pode ignorar esta lição-conselho, pois leitores e leitoras que valem a pena um dia chegam e leem, mesmo que a postagem esteja perdida nos idos de uma sexta-feira de abril de 2010...
Arre: dito isto, eu tinha que comentar que até me recordava vagamente deste poema do Leminski, mas acho ótimo que fique registrado aqui. O Leminski sempre foi brilhante, e aqui no arremate deste golpe ele escracha mesmo. Penso que hoje, em 2010, finalmente o Brasil está atingindo (meio de revesgueio) algo do melhor do século vinte: estamos já quase contemporâneos do pós-modernismo do Leminski, pois já quase superamos a doença da dívida externa - nossa economia está quase estável, quase superamos a escravidão, a dependência aos capitais econômicos, políticos e artísticos que nos subjugam enquanto nação e cultura. Nossos bosques ainda têm alguma vida, e nossos poetas estão kamiquases em graus de excelência aos similares de outras plagas.
A se lamentar o fato de ainda escrevermos, pensarmos e falarmos em português, né? Esplendor e miséria da língua brasileira... Me faz até lembrar uns versos duma negligenciada canção dos Engenheiros do Hawaii:
"quando se anda em círculos
nunca se é bastante rápido".
Enfim, escrevi demais, mas como sei que você gosta de ler e de escrever também, Beco, complete esta frase e estes pensamentos a seu gosto...

Roberto Prado disse...

Ivan, se o Brasil estivesse até hoje sob comandantes da mesma extração de Sarney e Collor, como bem disseram Marcos Prado + Thadeu, "o cadáver não ia dar nem pro cheiro". Nós e o Brasil já teríamos ido para os municípios de Vinagre e Beleléu. Avançamos, é verdade, mas o problema é que estávamos na beira do abismo.
Quanto ao exílio linguístico, acho que atá nisso evoluímos, já que o português é uma das línguas oficiais da União Européia, que acharam petróleo em Angola e que o idioma pátrio está para se tornar uma das línguas oficiais também dos EUA, junto com o espanhol, que já ganhou este status. Por conseguinte, até a fuga em massa de brasileiros legais e ilegais à cata de dólares legais e ilegais ajudou o nosso desenvolvimento.
E agora o que é que falta? Dinheiro. Eu, sinceramente, gostaria de ser pago, bem pago se possível e com data de pagamento previsível. É pedir demais de tamanha potência econômica?